segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

CULTURA E GASTRONOMIA ANGOLANA - SENAC CAMPOS DO JORDÃO

HOMENAGEM PELOS 

40 ANOS DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

CELEBRAR A CULTURA AFRICANA EM NOSSO PAÍS NOS REMETE DE UMA MANEIRA MUITO PARTICULAR AS NOSSAS ORIGENS, ONDE CELEBRAR É ATUALIZAR QUEM SOMOS E PARA ONDE IREMOS COMO PESSOA E SOCIEDADE. 


























REALIZAÇÃO: 4° PERÍODO DE GASTRONOMIA - SENAC CAMPOS

APOIO: PROF. MANOEL PAIVA - ESPAÇO CULTURAL ÁGORA

              PROF. SOLANGE BARBOSA - CENTRO CULTURAL AFRO BRASILEIRO ZUMBI DOS PALMARES

             BOB NASCIMENTO - COLETIVO TERÇA SINTONIA

PALESTRA: ENSINAMENTOS DA CULTURA ANGOLANA - DIA 20\11 DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


DIA 20 DE NOVEMBRO DE 2015  

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA  

ESCOLA ESTADUAL: DESEMBARGADOR AFONSO DE CARVALHO 

CIDADE: SANTO ANTÔNIO DO PINHAL


PALESTRA

ENSINAMENTOS DA CULTURA ANGOLANA























sábado, 12 de dezembro de 2015

Epicuro e a morte como perda da subjetividade

Epicuro e a morte como perda da subjetividade por  Markus Figueira da Silva

As reflexões epicúreas sobre  'modo de ser' do sophos indicam um conjunto de preceitos a serem seguidos por todos que buscam uma existência serena, livre dos tormentos que comumente assolam as almas dos homens, isto é, daqueles que acatam, sem mais, opiniões vazias de sentido propagadas nas crenças populares e se deixam afetar profundamente por elas. Epicuro se insurge sobretudo contra sentido de certas crenças que projetam para além da vida sentido de viver, ou contra aqueles que constroem "causas imaginá rias'", que sustentam a hipótese de realização de uma 'outra vida' após a morte. Estas crenças já existiam muito antes do aparecimento de Epicuro e continua a vigorar até hoje como fundamento de muitas religiões. Entretanto, paralelamente aos cultos da "morte" e da"reencarnação", outros pensadores tentaram esvaziar sentido de toda e qualquer proposta que tivesse por meta erguer a partir da morte um "projeto de outra vida". Talvez tenha sido Epicuro primeiro a formular em proposições, que a morte não deva ser um problema para o homem, enquanto este vive e tem uma clara compreensão do limite desta vida. Dito de outro modo, a morte não é suficientemente consistente para ser pensada exaustivamente pela Filosofia. O motivo de tais reflexões e que o homens em geral tem com a morte uma relação de temor; este temor e fonte de tormentos que adoecem a alma e impedem-na de obter o equilíbrio necessário a uma vida feliz. Portanto, se a filosofia tem por finalidade alcançar a ataraxia, isto é, a  imperturbabilidade da alma, e a preocupação com a morte gera perturba-lo, tal preocupação não deve ser objeto da filosofia. Mas o que pode calar a voz desse "demonic" e livrar de uma vez os homens do temor da morte? Toda a argumentação epicúrea e extremamente coerente com os princípios da sua filosofia e suficiente para demonstrar que não necessidade de se temer a morte, nem tampouco de se conjecturar acerca de uma vida após a morte. A leitura da Carta a Meneceu revela que "não há nada a temer na morte". Algumas máximas epicuristas preservadas também por Diógenes de Laertios no livro X da obra Vida e Doutrina dos Filósofos lIustres, revelam o esforço de Epicuro em esclarecer que não há sentido em temer a morte. E, finalmente, Diógenes imprimiu no muro de sua cidade o famoso tetrapharmakon, composto de quatro ensinamentos dos quais o segundo nos comunica que não há nada a temer quanto a morte. De algum modo deve-se reconhecer o empenho de Epicuro em querer curar a alma daquilo que considerava em sua época uma das principais moléstias - a crença segundo a qual a morte deva ser temida. Para ele, o decisivo era purificar a alma de temores vãos. Procederemos a seguir a análise dos panos 124-127 da Carta a Meneceu, nos quais torna-se evidente a partir de uma argumentação consistente que o temor da morte é sem sentido, e que portanto a morte não é um problema. O encaminhamento dado por Epicuro nos sugere que a filosofia deve se ater a vida; ou melhor: a realização da vida. No passe 124, esta escrito: "Acostuma-te a pensar que a morte nada é em relação a nós. Efetivamente, todos os bens e males estão na sensação, e a morte e privação das sensações. Logo, o conhecimento correto de que a morte nada é para nós torna fluível a mortalidade da vida, não por atribuir a esta uma duração ilimitada, mas por eliminar o desejo de imortalidade". (D.L., X, 124 - 125) Para uma melhor compreensão do teor desta proposição decidiu - se por dividi-la em quatro partes, segundo a ordem do texto, que apresenta em primeiro lugar a sentença: "Habitua-te a pensar que morte nada é em rela­ção a nós".
Há entre os comentadores e tradutores dos textos de Epicuro uma longa discussão sobre a melhor tradução e sentido dessa afirmação, entretanto, considera-se aqui mais conveniente a de Marcel Conche, que assinala: "habitua-te a pensar que a morte nada e em relação a nós , por enfatizar o sentido que a morte pode ter em relação a nós, ou ainda, que a morte não nos concerne em nada. Epicuro fundamenta sua afirmação na identificação entre viver e sentir; ou seja: se morrer significa não mais sentir, então nenhuma vida sobrevém a morte. Com relação a isto, as proposições acerca da physis, contidas na Carta de Heródoto dão consistência a esta afirmação por explicitarem que: a alma (psyché), ou aquilo que movimenta o corpo e permite que ele tenha sensações, é corpórea; que com o desfalecimento deixa de existir como (sómatos) e tem os seus átomos desagregados. Epicuro desenvolve nas partes subsequentes a argumentação que sustenta sua proposição. Na primeira delas ele sintetiza o que seria a natureza da sensibilidade: "... Efetivamente, todos os bens e males estao na sensação, e a morte é privação das sensações ..." A sensibilidade existe na interdependência entre corpo e alma. Pode-se dizer que a sensibilidade só é possível num movimento que envolve um páthos e um efeito psíquico, ou seja, as sensações podem ser físicas mas têm repercussões na alma, que através de impressões (prólepsis) produzem uma memória afetiva. O que resulta deste processo de constituição das sensações são dois estados antagônicos: o prazer (hedoné) e a dor (álgos e lýpe). Assim, expõe-se o sentido de identificação do prazer com todo bem e da dor com todo o mal. O sentido da vida só pode ser expresso a partir das afecções geradoras das sensações (aisthesis). A busca do prazer e ao mesmo tempo 'sentido para a vida' e 'medida de ser', ou de physis. A compreensão lúcida da relação entre corpo (Sarkós) e alma (psyché), na medida em que eles produzem sensações que dão sentido ou noção (para/de) vida, evidencia um todo que é o homem - e a natureza de sua realização, Toda e qualquer relação entre homem e mundo só pode ser sensitiva, porque se parte do pressuposto segundo o qual o homem  só é na medida em que sente. A ausência de qualquer sensação significa morte. Não há nada a dizer sobre ela. Nada se expressa com sentido fora da sensação, Não se pode projetar a vida para além dos limites da sensibilidade. Tudo isso se complementa perfeitamente segundo um raciocínio (logismós) que identifica a realização da vida ao exercício físico e anímico da sensibilidade. A morte é, portanto, privação das sensações: o que vale dizer que a morte não é nem bem nem mal, porque bem e mal só podem ser pensados com relação aquele que sente e traduz para si o efeito que tal sensação produz: prazer, ou dor, isto é, bem ou mal. "...Logo, o conhecimento correto de que a morte nada é em relação a nós toma f1uível a mortalidade da vida ..." 
O modo pelo qual se pensa a vida é sob todos os aspectos busca de realização. Todo o sentido da vida é posto na vida e não há sentido em pensar em algo mais "fora da vida". O limite não é temido, ao contrário, é compreendido do mesmo modo como é compreendida a finitude. Pensar a morte como limite da vida e pensá-la como um acontecimento natural e necessário. É preciso que se pense na morte com tranquilidade. Neste sentido, não tornar a morte em algo que deva ser temido e projetar todos os "anseios" para a própria vida, isto é, viver intensamente e de modo sereno. Alimentar a vida de modo a realizá-la livre de qualquer construção imaginária que possa ou venha a negá-la. Aqui, viver de acordo com a natureza, quer significar compreendê-la na medida em que se busque realizá-la, Pensar a vida e vivê-la torna-se uma só coisa, fluível e tranquila, porque suficiente, isto é, independente de fabulações e, sobretudo, das crenças em tais fabulações. Curiosamente, mantêm-se aqui, num sentido diverso, a máxima socrática, reeditada por Montaigne, segundo a qual "filosofar é aprender a morrer". O sentido é outro, bem diferente das projeções de uma outra vida para além desta vida. O sentido exato é o de uma vida bem vivida; isto é, intensamente vivida, segundo o critério de boa realização desta vida e do critério do bem ou do prazer associado aphrónesis. Mais uma vez, a base "physiológica" sobre a qual se ergue toda a argumentação que ora se expõe e a compreensão de psyché como um corpo (composto de átomos qualitativamente diferentes dos átomos que constituem o sarkós). A compreensão de que a alma se desagrega com a morte do indivíduo causa no homem um certo desprendimento, ou seja, leva a uma valorização máxima da vida. A vida é plenitude sob todos os aspectos. A filosofia é um exercício que torna a vida a todo momento carregada de sentido e de vigor. O apagar da chama é tão inevitável quanto o calor que dela emana. E por isso mesmo não precisa ser motivo de inquietação ou temor. A morte é o último acontecimento da vida, só que dela não chegamos a tomar conhecimento. Ela acontece como ausência de sentidos. Ela pode ser pensada como o vazio pode ser pensado, mas em si mesma e para nós, ela nada pode significar. "... Não por atribuir a esta uma duração ilimitada, mas por eliminar o desejo de imortalidade ...". A questão ensejada por Epicuro sobre a finalidade do conhecimento acerca da morte expõe uma medida para o conhecer. Aqui conhecer e compreender o limite do que pode ser dito e do que pode ser imaginado. 0 sábio busca o conhecimento daquilo que se lhe apresenta como passível de ser pensado a partir dos elementos da sensibilidade. As sensações (aísthesis) inauguram o processo de conhecimento que é complementado pelas projeções do pensamento (epibolé tès dianóias) porém, interessa sobretudo compreender os limites de tais projeções, para que não ultrapassem as raias da coerência, cujo referencial é a morte enquanto fato, acontecimento,cujo conteúdo não existe, é insondável. Assim, pensar a morte pode significar estabelecer uma medida de poder para este pensar. O pensamento é narrativo (descrição do fato) ou imaginário: em ambos os casos ele se dá sem qualquer experiência do acontecimento-morte. Logo, o conteúdo do pensamento narrativo limita-se a constatação do fato e da sua necessidade. A morte esta subsumida num processo maior - e este sim experimentado - que é a vida, como perda de sensibilidade, sem qualquer possibilidade de consciência do que já não é. O pensamento imaginante quase sempre ultrapassa os limites da experiência, configurando um 'novo universo', podendo até compreendê-lo como a continuação imaginária que se expõe a partir do ocaso da vida. Este tipo de "conforto" traz por vezes um desconforto e uma intranquilidade, que seriam o temível desejo de imortalidade. Mas o que seria este desejo, aos olhos de Epicuro? Temor. 
A exceção do vazio (kenón) tudo o que existe, além de verdadeiro, é sensível. A morte é perda de sensibilidade, portanto, ela não existe substancialmente enquanto objeto de pensamento. Então porque torná-la (dotá-la) de uma substancia incerta e imaginária, que estranhamente se reveste de cunho religioso, onde o crer está associado ao sentir? E ainda, porque sofrer por antecipação? Epicuro diz que o sofrimento com a perspectiva da morte é uma antecipação, ou seja, ele reside na espera do fato. Lê-se no pane 125: "insensato, portanto, quem diz que teme a morte não porque sua presença pode causar sofrimento, mas porque sua perspectiva faz sofrer. Aquilo que não perturba quando esta presente causa somente um sofrimento infundado quando a esperado".
É na perspectiva da morte que se projeta o imaginário sob a forma de crenças ou como chamava Epicuro 'opiniões vazias' (kenón dóxai) o sofrer por antecipação quer dizer exatamente negar a possibilidade de tornar a vida em algo prazeroso. Isto não é coerente com a natureza das coisas, pois o sábio "não renuncia a vida nem teme a cessação da vida". Ele parece ter a nítida compreensão de que a morte é para muitos apenas um nome, mas um nome temível. Por que? Se para o sábio, ou aquele que medita sobre a bela vida, a naturalidade da morte implica numa compreensão física deste acontecimento? Esta compreensão engendra tranquilidade e não temor ou fantasia. Ao filósofo basta a imagem da morte enquanto momento/ acontecimento final da vida. Esta imagem só é possível mediante uma certa "projeção do pensamento" (epibolé tès dianóias), mas não pode ser caracterizada em momento algum como objeto. 
Serve como ilustração para as proposições epicúreas o comentário de Feuerbach (Sammtliche Werke, X, p. 84): "A morte não é nada (nela mesma), ela não é nem absoluta, nem positiva e não tem realidade senão na imaginação do homem". Na perspectiva do pensamento de Epicuro a morte permanece uma questão aberta e insondável, porque de alguma maneira ele entende que quem busca tecer uma sabedoria de vida, não se deixa seduzir por verdades imaginárias. 

Fonte: http://www.principios.cchla.ufrn.br/arquivos/03P-140-146.pdf 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A MAIS VALIA EM MARX

Outro conceito importantíssimo para se compreender a organização dos modos de produção capitalista e suas formas de apropriação do trabalho é aquilo que Marx denominou como Mais-valia. Esse termo, muito famoso, é utilizado para referir-se à diferença existente entre o valor da mercadoria produzida, a soma do valor de seus meios de produção e o valor do trabalho, que apresenta-se como a base de lucro no sistema capitalista.
Este, no entanto não é um conceito tão simples quanto possa parecer à primeira vista, isso porque o próprio Marx, aos poucos, foi percebendo que muitos destes valores não eram grandezas concretas e absolutas, mas sim passiveis de muita variabilidade indo de uma sociedade para a outra.
Por exemplo, foi possível constatar que os valores do trabalho não eram reduzidos ao valor de sobrevivência, mas que em cada sociedade ele agregava valores de costumes e culturais, dessa forma, na França, por exemplo, esse valor levava em conta que era algo impraticável esperar que os operários contentassem-se em viver sem seu vinho.

Sabe-se no entanto que, invariavelmente, os valores atribuídos ao trabalho e mesmo a todo processo de produção eram absurdamente inferiores ao valor cobrado pelo produto final, gerando dessa forma lucros exorbitantes para o capitalista, o dono dos meios de produção. E assim é até hoje, fazendo com que não seja difícil perceber, mais uma vez, a alienação do trabalho. Os honorários obtidos por um trabalhador de linha de montagem de automóveis pode sim suprir suas necessidades de sobrevivência, no entanto, dificilmente dará a esse operário acesso pleno ao produto final de seu trabalho.

O TRABALHO EM WEBER

A visão protestante, para além de uma valorização religiosa do trabalho, contribui para criar um “espírito” motivacional para o empreendedorismo. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens – os capitalistas – à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de juros e à acumulação de capital. Esse ethos – conjunto de valores culturais – exortava que a acumulação do capital deveria ser reinvestida em novos empreendimentos que gerassem mais empregos. Esse círculo virtuoso – trabalhar, acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento da harmonia social. Será esse ethos que fomentará a atividade capitalista.
Observa-se portanto que, da completa desvalorização, o trabalho assume, ao longo da sociedade religiosa, uma mudança de sentido até se tornar referência para uma vida virtuosa. Num primeiro momento, na Idade Média, o trabalho é interpretado como castigo – subjaz a essa representação do trabalho uma subjetividade da insignificância da condição humana. O trabalho não é fonte de afirmação pessoal, coletiva ou mesmo espiritual, não compraz e não é valorizado. É visto como necessidade, uma penitência a ser realizada que se coloca em contigüidade à necessidade de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita de trabalho penoso e árduo, infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que não trabalha interpreta o trabalho dessa forma e considera-se venturoso porque possibilita a outrem a purgação do pecado original de toda a humanidade. A subjetividade manifesta é análoga aos que vivem do trabalho e aos que não vivem. 
Uma nova configuração dos aspectos subjetivos do trabalho ainda pode ser considerada na sociedade religiosa. Trata-se daquela advinda do significado do trabalho a partir dos preceitos impregnados na Reforma. Daquele momento em diante, definitivamente o trabalho afirma-se como um valor desejável, necessário e sinal de reconhecimento. A afirmação da pessoa humana passa pelo trabalho. A vida virtuosa completa-se no trabalho e é condenável a vida ociosa. Todos devem trabalhar, inclusive aqueles que dele necessariamente não precisem. O trabalho passa a ser uma exigência social, e como tal, assume uma configuração de distinção junto aos outros. O trabalho, contrariamente ao que se afirmava antes, pode sim ser fonte de riqueza e quanto mais se amealha mais reconhecimento traz e mais agrada a Deus.