segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
PALESTRA: ENSINAMENTOS DA CULTURA ANGOLANA - DIA 20\11 DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
DIA 20 DE NOVEMBRO DE 2015
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
ESCOLA ESTADUAL: DESEMBARGADOR AFONSO DE CARVALHO
CIDADE: SANTO ANTÔNIO DO PINHAL
PALESTRA
ENSINAMENTOS DA CULTURA ANGOLANA
sábado, 12 de dezembro de 2015
Epicuro e a morte como perda da subjetividade
Epicuro e a morte como perda da subjetividade por Markus Figueira da Silva
As reflexões epicúreas sobre 'modo de ser' do sophos indicam
um conjunto de preceitos a serem seguidos por todos que buscam
uma existência serena, livre dos tormentos que comumente assolam
as almas dos homens, isto é, daqueles que acatam, sem mais, opiniões
vazias de sentido propagadas nas crenças populares e se deixam
afetar profundamente por elas. Epicuro se insurge sobretudo contra sentido de certas crenças que projetam para além da vida sentido
de viver, ou contra aqueles que constroem "causas imaginá rias'", que
sustentam a hipótese de realização de uma 'outra vida' após a morte.
Estas crenças já existiam muito antes do aparecimento de
Epicuro e continua a vigorar até hoje como fundamento de muitas
religiões. Entretanto, paralelamente aos cultos da "morte" e da"reencarnação", outros pensadores tentaram esvaziar sentido de
toda e qualquer proposta que tivesse por meta erguer a partir da morte
um "projeto de outra vida". Talvez tenha sido Epicuro primeiro a
formular em proposições, que a morte não deva ser um problema
para o homem, enquanto este vive e tem uma clara compreensão do
limite desta vida. Dito de outro modo, a morte não é suficientemente
consistente para ser pensada exaustivamente pela Filosofia. O motivo
de tais reflexões e que o homens em geral tem com a morte uma
relação de temor; este temor e fonte de tormentos que adoecem a
alma e impedem-na de obter o equilíbrio necessário a uma vida feliz.
Portanto, se a filosofia tem por finalidade alcançar a ataraxia, isto é, a imperturbabilidade da alma, e a preocupação com a morte gera
perturba-lo, tal preocupação não deve ser objeto da filosofia.
Mas o que pode calar a voz desse "demonic" e livrar de uma vez
os homens do temor da morte?
Toda a argumentação epicúrea e extremamente coerente com
os princípios da sua filosofia e suficiente para demonstrar que
não necessidade de se temer a morte, nem tampouco de se
conjecturar acerca de uma vida após a morte.
A leitura da Carta a Meneceu revela que "não há nada a temer na
morte". Algumas máximas epicuristas preservadas também por
Diógenes de Laertios no livro X da obra Vida e Doutrina dos Filósofos
lIustres, revelam o esforço de Epicuro em esclarecer que não há sentido
em temer a morte. E, finalmente, Diógenes imprimiu no
muro de sua cidade o famoso tetrapharmakon, composto de quatro
ensinamentos dos quais o segundo nos comunica que não há nada a
temer quanto a morte. De algum modo deve-se reconhecer o empenho
de Epicuro em querer curar a alma daquilo que considerava em sua época uma das principais moléstias - a crença segundo a qual a morte
deva ser temida. Para ele, o decisivo era purificar a alma de temores
vãos.
Procederemos a seguir a análise dos panos 124-127 da Carta a
Meneceu, nos quais torna-se evidente a partir de uma argumentação
consistente que o temor da morte é sem sentido, e que portanto a
morte não é um problema. O encaminhamento dado por Epicuro nos
sugere que a filosofia deve se ater a vida; ou melhor: a realização da
vida.
No passe 124, esta escrito:
"Acostuma-te a pensar que a morte nada é em
relação a nós. Efetivamente, todos os bens e
males estão na sensação, e a morte e privação das sensações. Logo, o conhecimento correto
de que a morte nada é para nós torna fluível a
mortalidade da vida, não por atribuir a esta uma
duração ilimitada, mas por eliminar o desejo de
imortalidade". (D.L., X, 124 - 125)
Para uma melhor compreensão do teor desta proposição decidiu - se
por dividi-la em quatro partes, segundo a ordem do texto, que
apresenta em primeiro lugar a sentença:
"Habitua-te a pensar que morte nada é em relação a nós".
Há entre os comentadores e tradutores dos textos de Epicuro
uma longa discussão sobre a melhor tradução e sentido dessa
afirmação, entretanto, considera-se aqui mais conveniente a de Marcel
Conche, que assinala: "habitua-te a pensar que a morte nada e em
relação a nós , por enfatizar o sentido que a morte pode ter em relação a nós, ou ainda, que a morte
não nos concerne em nada. Epicuro fundamenta sua afirmação na
identificação entre viver e sentir; ou seja: se morrer significa não mais
sentir, então nenhuma vida sobrevém a morte. Com relação a isto, as
proposições acerca da physis, contidas na Carta de Heródoto dão
consistência a esta afirmação por explicitarem que: a alma (psyché),
ou aquilo que movimenta o corpo e permite que ele tenha sensações, é corpórea; que com o desfalecimento deixa de existir como (sómatos)
e tem os seus átomos desagregados. Epicuro desenvolve nas partes
subsequentes a argumentação que sustenta sua proposição. Na
primeira delas ele sintetiza o que seria a natureza da sensibilidade:
"... Efetivamente, todos os bens e males estao
na sensação, e a morte é privação das sensações
..." A sensibilidade existe na interdependência entre corpo e alma.
Pode-se dizer que a sensibilidade só é possível num movimento que
envolve um páthos e um efeito psíquico, ou seja, as sensações podem
ser físicas mas têm repercussões na alma, que através de impressões (prólepsis) produzem uma memória afetiva. O que resulta deste
processo de constituição das sensações são dois estados antagônicos:
o prazer (hedoné) e a dor (álgos e lýpe). Assim, expõe-se o sentido
de identificação do prazer com todo bem e da dor com todo o mal. O sentido da vida só pode ser expresso a partir das afecções geradoras
das sensações (aisthesis). A busca do prazer e ao mesmo tempo
'sentido para a vida' e 'medida de ser', ou de physis. A compreensão
lúcida da relação entre corpo (Sarkós) e alma (psyché), na medida em
que eles produzem sensações que dão sentido ou noção (para/de)
vida, evidencia um todo que é o homem - e a natureza de sua
realização, Toda e qualquer relação entre homem e mundo só pode
ser sensitiva, porque se parte do pressuposto segundo o qual o homem só é na medida em que sente. A ausência de qualquer sensação
significa morte. Não há nada a dizer sobre ela. Nada se expressa
com sentido fora da sensação, Não se pode projetar a vida para além
dos limites da sensibilidade.
Tudo isso se complementa perfeitamente segundo um raciocínio
(logismós) que identifica a realização da vida ao exercício físico e
anímico da sensibilidade. A morte é, portanto, privação das sensações:
o que vale dizer que a morte não é nem bem nem mal, porque bem e
mal só podem ser pensados com relação aquele que sente e traduz
para si o efeito que tal sensação produz: prazer, ou dor, isto é, bem ou
mal.
"...Logo, o conhecimento correto de que a morte
nada é em relação a nós toma f1uível a mortalidade
da vida ..."
O modo pelo qual se pensa a vida é sob todos os aspectos busca
de realização. Todo o sentido da vida é posto na vida e não há sentido
em pensar em algo mais "fora da vida". O limite não é temido, ao
contrário, é compreendido do mesmo modo como é compreendida a
finitude. Pensar a morte como limite da vida e pensá-la como um
acontecimento natural e necessário. É preciso que se pense na morte
com tranquilidade. Neste sentido, não tornar a morte em algo que
deva ser temido e projetar todos os "anseios" para a própria vida, isto é, viver intensamente e de modo sereno. Alimentar a vida de modo a
realizá-la livre de qualquer construção imaginária que possa ou venha
a negá-la. Aqui, viver de acordo com a natureza, quer significar
compreendê-la na medida em que se busque realizá-la, Pensar a
vida e vivê-la torna-se uma só coisa, fluível e tranquila, porque
suficiente, isto é, independente de fabulações e, sobretudo, das crenças
em tais fabulações.
Curiosamente, mantêm-se aqui, num sentido diverso, a máxima
socrática, reeditada por Montaigne, segundo a qual "filosofar é aprender
a morrer". O sentido é outro, bem diferente das projeções de uma
outra vida para além desta vida. O sentido exato é o de uma vida bem
vivida; isto é, intensamente vivida, segundo o critério de boa realização desta vida e do critério do bem ou do prazer associado aphrónesis.
Mais uma vez, a base "physiológica" sobre a qual se ergue toda
a argumentação que ora se expõe e a compreensão de psyché como
um corpo (composto de átomos qualitativamente diferentes dos átomos que constituem o sarkós). A compreensão de que a alma se desagrega
com a morte do indivíduo causa no homem um certo desprendimento,
ou seja, leva a uma valorização máxima da vida. A vida é plenitude
sob todos os aspectos. A filosofia é um exercício que torna a vida a
todo momento carregada de sentido e de vigor. O apagar da chama é tão inevitável quanto o calor que dela emana. E por isso mesmo não
precisa ser motivo de inquietação ou temor. A morte é o último
acontecimento da vida, só que dela não chegamos a tomar
conhecimento. Ela acontece como ausência de sentidos. Ela pode
ser pensada como o vazio pode ser pensado, mas em si mesma e
para nós, ela nada pode significar.
"... Não por atribuir a esta uma duração ilimitada,
mas por eliminar o desejo de imortalidade ...".
A questão ensejada por Epicuro sobre a finalidade do
conhecimento acerca da morte expõe uma medida para o conhecer.
Aqui conhecer e compreender o limite do que pode ser dito e do que
pode ser imaginado. 0 sábio busca o conhecimento daquilo que se lhe apresenta como passível de ser pensado a partir dos elementos
da sensibilidade. As sensações (aísthesis) inauguram o processo de
conhecimento que é complementado pelas projeções do pensamento
(epibolé tès dianóias) porém, interessa sobretudo compreender os
limites de tais projeções, para que não ultrapassem as raias da coerência,
cujo referencial é a morte enquanto fato, acontecimento,cujo
conteúdo não existe, é insondável.
Assim, pensar a morte pode significar estabelecer uma medida
de poder para este pensar. O pensamento é narrativo (descrição do
fato) ou imaginário: em ambos os casos ele se dá sem qualquer experiência
do acontecimento-morte. Logo, o conteúdo do pensamento
narrativo limita-se a constatação do fato e da sua necessidade. A
morte esta subsumida num processo maior - e este sim experimentado
- que é a vida, como perda de sensibilidade, sem qualquer possibilidade
de consciência do que já não é. O pensamento imaginante quase
sempre ultrapassa os limites da experiência, configurando um 'novo
universo', podendo até compreendê-lo como a continuação imaginária
que se expõe a partir do ocaso da vida. Este tipo de "conforto" traz
por vezes um desconforto e uma intranquilidade, que seriam o temível
desejo de imortalidade. Mas o que seria este desejo, aos olhos de
Epicuro? Temor.
A exceção do vazio (kenón) tudo o que existe, além de verdadeiro, é sensível. A morte é perda de sensibilidade, portanto, ela não
existe substancialmente enquanto objeto de pensamento. Então porque
torná-la (dotá-la) de uma substancia incerta e imaginária, que estranhamente
se reveste de cunho religioso, onde o crer está associado
ao sentir? E ainda, porque sofrer por antecipação?
Epicuro diz que o sofrimento com a perspectiva da morte é uma
antecipação, ou seja, ele reside na espera do fato. Lê-se no pane
125:
"insensato, portanto, quem diz que teme a
morte não porque sua presença pode causar
sofrimento, mas porque sua perspectiva faz sofrer.
Aquilo que não perturba quando esta presente
causa somente um sofrimento infundado
quando a esperado".
É na perspectiva da morte que se projeta o imaginário sob a
forma de crenças ou como chamava Epicuro 'opiniões vazias' (kenón
dóxai) o sofrer por antecipação quer dizer exatamente negar a possibilidade
de tornar a vida em algo prazeroso. Isto não é coerente com
a natureza das coisas, pois o sábio "não renuncia a vida nem teme a
cessação da vida". Ele parece ter a nítida compreensão de que a morte é para muitos apenas um nome, mas um nome temível. Por
que? Se para o sábio, ou aquele que medita sobre a bela vida, a naturalidade
da morte implica numa compreensão física deste acontecimento?
Esta compreensão engendra tranquilidade e não temor ou
fantasia. Ao filósofo basta a imagem da morte enquanto momento/
acontecimento final da vida. Esta imagem só é possível mediante
uma certa "projeção do pensamento" (epibolé tès dianóias), mas não
pode ser caracterizada em momento algum como objeto.
Serve como ilustração para as proposições epicúreas o comentário
de Feuerbach (Sammtliche Werke, X, p. 84):
"A morte não é nada (nela mesma), ela não é nem absoluta, nem positiva e não tem realidade
senão na imaginação do homem".
Na perspectiva do pensamento de Epicuro a morte permanece
uma questão aberta e insondável, porque de alguma maneira ele entende que quem busca tecer uma sabedoria de vida, não se deixa
seduzir por verdades imaginárias.
Fonte: http://www.principios.cchla.ufrn.br/arquivos/03P-140-146.pdf
terça-feira, 6 de outubro de 2015
A MAIS VALIA EM MARX
Outro conceito importantíssimo para se compreender a organização dos modos de produção capitalista e suas formas de apropriação do trabalho é aquilo que Marx denominou como Mais-valia. Esse termo, muito famoso, é utilizado para referir-se à diferença existente entre o valor da mercadoria produzida, a soma do valor de seus meios de produção e o valor do trabalho, que apresenta-se como a base de lucro no sistema capitalista.
Este, no entanto não é um conceito tão simples quanto possa parecer à primeira vista, isso porque o próprio Marx, aos poucos, foi percebendo que muitos destes valores não eram grandezas concretas e absolutas, mas sim passiveis de muita variabilidade indo de uma sociedade para a outra.
Por exemplo, foi possível constatar que os valores do trabalho não eram reduzidos ao valor de sobrevivência, mas que em cada sociedade ele agregava valores de costumes e culturais, dessa forma, na França, por exemplo, esse valor levava em conta que era algo impraticável esperar que os operários contentassem-se em viver sem seu vinho.
Sabe-se no entanto que, invariavelmente, os valores atribuídos ao trabalho e mesmo a todo processo de produção eram absurdamente inferiores ao valor cobrado pelo produto final, gerando dessa forma lucros exorbitantes para o capitalista, o dono dos meios de produção. E assim é até hoje, fazendo com que não seja difícil perceber, mais uma vez, a alienação do trabalho. Os honorários obtidos por um trabalhador de linha de montagem de automóveis pode sim suprir suas necessidades de sobrevivência, no entanto, dificilmente dará a esse operário acesso pleno ao produto final de seu trabalho.
O TRABALHO EM WEBER
A visão protestante, para além de uma valorização religiosa do trabalho, contribui para criar um “espírito” motivacional para o empreendedorismo. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens – os capitalistas – à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de juros e à acumulação de capital. Esse ethos – conjunto de valores culturais – exortava que a acumulação do capital deveria ser reinvestida em novos empreendimentos que gerassem mais empregos. Esse círculo virtuoso – trabalhar, acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento da harmonia social. Será esse ethos que fomentará a atividade capitalista.
Observa-se portanto que, da completa desvalorização, o trabalho assume, ao longo da sociedade religiosa, uma mudança de sentido até se tornar referência para uma vida virtuosa. Num primeiro momento, na Idade Média, o trabalho é interpretado como castigo – subjaz a essa representação do trabalho uma subjetividade da insignificância da condição humana. O trabalho não é fonte de afirmação pessoal, coletiva ou mesmo espiritual, não compraz e não é valorizado. É visto como necessidade, uma penitência a ser realizada que se coloca em contigüidade à necessidade de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita de trabalho penoso e árduo, infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que não trabalha interpreta o trabalho dessa forma e considera-se venturoso porque possibilita a outrem a purgação do pecado original de toda a humanidade. A subjetividade manifesta é análoga aos que vivem do trabalho e aos que não vivem.
Uma nova configuração dos aspectos subjetivos do trabalho ainda pode ser considerada na sociedade religiosa. Trata-se daquela advinda do significado do trabalho a partir dos preceitos impregnados na Reforma. Daquele momento em diante, definitivamente o trabalho afirma-se como um valor desejável, necessário e sinal de reconhecimento. A afirmação da pessoa humana passa pelo trabalho. A vida virtuosa completa-se no trabalho e é condenável a vida ociosa. Todos devem trabalhar, inclusive aqueles que dele necessariamente não precisem. O trabalho passa a ser uma exigência social, e como tal, assume uma configuração de distinção junto aos outros. O trabalho, contrariamente ao que se afirmava antes, pode sim ser fonte de riqueza e quanto mais se amealha mais reconhecimento traz e mais agrada a Deus.
terça-feira, 11 de agosto de 2015
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