O outro, que
sofre na miséria ou passa fome, interpela e atinge nossa própria identidade de
ser humano. Não se deixar interpelar e não agir diante da pessoa massacrada
pela miséria é desumanizar-se. Participar do resgate do ser pessoa do outro, é
humanizar-se com ele. Enquanto houver um ser humano vitimado pela miséria ou
pela fome, é a humanidade toda que sofre em sua dignidade ofendida. Enfim, esta
situação da negação do outro como pessoa nos leva a rejeitar a soberania do
mercado, que estimula a produção de bens tendo em vista unicamente o lucro que
pode obter no atendimento à demanda. O mercado, como a economia em sua
totalidade, é um meio a serviço das necessidades humanas e, portanto, é preciso
que se submeta ao controle e ao monitoramento da comunidade.
O
arco entre o eu e o nós só se fechará quando o modo de produção coletivo tiver
se rebelado definitivamente contra o modo privado de apropriação e troca;
quando o individuo não mais for um capitalista individual ou ainda um pulha
atravessado; quando o coletivo, em vez disso, realmente tiver se tornado total,
ou seja, quando englobar novos indivíduos num tipo de afinidade nunca antes
vista. (BLOCH, V.3 2006, p. 52 – 53)
A ética
comunitária em sua estrutura de libertação rompe com o sistema opressor no qual
faz dos indivíduos meros anônimos diante da máxima do lucro. Logo, a prioridade
na moral da sociedade consiste em afirmar as relações mediante a lógica do
mercado. Esta que se apropria dos mecanismos econômicos, sociais, para
desempenhar a função de dominar as ações das pessoas negando a coletividade,
tornando-nos seres fragmentados com o intuito de estabelecer relação com o
capital e dessa forma utilizando o outro como instrumento a favor do fluxo do
capital. Os bens gerados pela economia vigente beneficiam a minoria,
massacrando a maioria pobre no qual padece com a exclusão, contudo a ética
comunitária urge em nossos dias para estabelecermos a ordem pela justiça.
O objetivo atual
da vida econômica não é mais sustentar a vida do povo, mas acumular riqueza, ou
seja, lucrar sempre mais. O mercado livre inaugurou uma verdadeira competição
entre as pessoas para conseguir lucrar mais que o outro. A economia capitalista
tem como pilar a forte concorrência na tentativa de derrubar o outro para
acumular mais. Há hoje uma verdadeira guerra econômica, favorecendo os poderosos
e fazendo vitimas: os pobres que não conseguem ter poder lucrativo.
Possuir a consciência ética é ter sensibilidade ao rosto que me olha. Portanto, não é somente aplicar minha ajuda concreta ao outro, mas, sobretudo, ouvir, a interpelação que vem da alteridade absoluta, porque o outro está além de todo sistema, ele não pode ser reduzido a um eu dominador que o faz somente um instrumento. Sou ético quando faço por ele justiça, abro-me ao mesmo o levando a sério a partir de minha responsabilidade, que antecede a todo sistema. Porque o outro dentro do mesmo perde sua identidade, porque é dominado. Como percebemos a conversão só ocorre quando ouvimos a voz , o interpelo, nos sentimos chamados, sensibilizados.
BLOCH, E. O princípio esperança. Vol. 3. Ed. Tradução e notas Nélio
Schneider. Rio de Janeiro. Ed. UERJ Contraponto. 2006
DUSSEL, E. Ética comunitária. 2. Ed. Tradução de
Jaime Clasen. Petrópolis: Vozes, 1987.
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