A Modernidade
Para Simmel, a modernidade pode ser entendida através de seus dois principais
símbolos – eles representam o especificamente moderno, características que só puderam emergir
com o advento da modernidade – são eles: o dinheiro e a metrópole.
Frutos de um desenvolvimento histórico particular, esses dois fatores, dinheiro e
metrópole, juntos produzem o que há de diverso no modo de vida moderno. Trazem consigo
uma dualidade que só na modernidade pode ser acentuada de modo radical: um aumento da
individualização conjuntamente com um aumento da impessoalidade.
O dinheiro é, para Simmel, um herói/vilão da modernidade. Por um lado permite
que as relações sociais se libertem da dependência de pessoas específicas. Isso se deve ao fato (SIMMEL, 1998a, p.28-blasé, indiferente, incapaz de notar a diferença. Habituado à
“As correntes da cultura moderna deságuam em duas direções
aparentemente opostas: por um lado, na nivelação e compensação, no
estabelecimento de círculos sociais cada vez mais abrangentes por meio de
ligações com o mais remoto sob condições iguais; por outro, no destaque do
mais individual, na independência da pessoa, na autonomia da formação
dela. E ambas as direções são transportadas pela economia do dinheiro que
possibilita, por um lado, um interesse comum, um meio de relacionamento e
de comunicação totalmente universal e efetivo no mesmo nível e em todos os
lugares à personalidade, por outro lado, uma reserva maximizada,
permitindo a individualização e a liberdade.”
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A Metrópole é o lugar onde, agora, muitos podem viver, e de forma um tanto
heterogênea. A metrópole põe em contato as diferenças, e permite ao indivíduo, através de uma
relativização da diferença – relativização que é fruto do contato intensivo com a diferença que a
cidade permite – uma maior liberdade de ação. Enquanto em um vilarejo pré-moderno a
diferença seria motivo de desconfiança, na metrópole moderna ele é tolerada – ou exigida, na
medida em que é o exercício do individualismo. Assim como o dinheiro, a metrópole também
produz como conseqüência a impessoalidade. Em meio a tantas diferenças, e na velocidade
específica da cidade, a própria diferença se torna banal, se torna “lugar comum”. Em meio a
tantos estímulos e tantas novidades a diferença se transforma em indiferença. O indivíduo da
grande cidade é o indivíduo
impessoal desatenção civil, ele é incapaz de notar a novidade.
de ser um meio de troca universal, reconhecido por todos, o que torna possível a troca comercial
independente. Por outro lado essa independência de relações sociais específicas torna o contato
humano apenas um contato comercial. O dinheiro, como meio de troca universal, destrói toda
especificidade, torna tudo nivelado. A impessoalidade do dinheiro é a fonte da impessoalidade
das relações humanas.