segunda-feira, 6 de julho de 2015
sexta-feira, 3 de julho de 2015
SOMOS CRISTÃOS E A REDUÇÃO?
Porque alguns cristãos se alegraram com a redução?
Qual seria o posicionamento de Jesus?
Diante do quadro político do parlamento brasileiro e de suas inúmeras contradições ideológicas eleitoreiras que seduzem os cidadãos que através de pouco conhecimento e uma série de informações de jornais que reproduzem a indústria da exclusão e do medo firmam com convicção posturas contrárias a esperança que é própria do cristianismo. No entanto, uma outra questão me assombra a partir dos debates das TVs, nas redes e, que por fim, se concluiu com a manobra realizada na noite de ontem, 01\07, com a aprovação da redução para 16 anos da idade penal, assim, venho refletir acerca do posicionamento dos cristãos sobre aqueles que Jesus escolheu como sua missão,"respondeu-lhes Jesus: Não são os homens de boa saúde que necessitam de médicos, mas sim os enfermos"(Lc 5, 31).
Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar ou deixa que essa arte caia em desuso pode esperar encontrar respostas para os problemas que a afligem - certamente não antes que seja tarde demais e quando as respostas ainda que corretas, já se tornaram irrelevantes (ARENDT, p. 14-15).
É notório que os pilares da estrutura de uma sociedade, e aqui me refiro aos segmentos da economia, política e a conjuntura social apresentam a necessidade de reformas e novos sistemas, dado a crise mundial que há décadas cresce o número de países que recorrem a recursos e acordos sem precedentes. Ademais, as instituições sociais como a escola, família e a igreja, naturalmente são influenciadas e com urgência precisam firmar seus princípios e compreender o cenário atual assumindo suas responsabilidades.
Ser visto e ouvido por outros é importante pelo fato de que todos vêem e ouvem de ângulos diferentes. É este o significado da vida pública, em comparação com a qual até mesmo a mais fecunda e satisfatória vida familiar pode oferecer (ARENDT, p. 67).
O sentido de comunidade como espaço dos iguais, no qual a partir do coletivo anseiam por novas formas e meios para alcançarem objetivos em comum, atualmente estão revestidos pelo indivíduo virtual, pela comunidade virtual e logo o outro assume também o caráter de outro virtual. À medida que os valores inerentes à sociedade se transformam em virtuais e, nesta crescente transformação, arriscamos negar ao outro o sentido de pertença a uma comunidade e por outro lado, negamos os contextos sociais, seus protagonistas e espectadores. Enfim, o distanciamento da sociedade real necessariamente favorece o crescimento de comunidades fantasmas, virtuais. A despolitização do cidadão, visto na ótica do consumo como individuo, permeia o novo conceito de comunidade e, principalmente, forja sutilmente a instrumentalização do outro como mecanismo de descarte a partir do clique gerando indivíduo online ou offline.
A experiência da proximidade entre pessoas como pessoas é que constitui o outro como “próximo” (próximo, vizinho, alguém), como outro; e não como coisa, instrumento, mediação. A práxis, então, na atualização da proximidade, da experiência de ser próximo para o próximo, de construir o outro como pessoa, como fim de minha ação e não como meio: respeito infinito (DUSSEL, 1987, p. 19).
Em meados de MAIO a CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por meio do Arcebispo Dom Murilo Krieger de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, declarou a posição da Igreja Católica sobre a questão da redução da idade penal para 16 anos, " a comoção não é boa conselheira e, nesse caso, pode levar a decisões equivocadas com danos irreparáveis para muitas crianças e adolescentes, incidindo diretamente nas famílias e na sociedade. O caminho para pôr fim à condenável violência praticada por adolescentes passa, antes de tudo, por ações preventivas como educação de qualidade, em tempo integral; combate sistemático ao tráfico de drogas; proteção à família; criação, por parte dos poderes públicos e de nossas comunidades eclesiais, de espaços de convivência, visando a ocupação e a inclusão social de adolescentes e jovens por meio de lazer sadio e atividades educativas; reafirmação de valores como o amor, o perdão, a reconciliação, a responsabilidade e a paz [...]sob a luz do Evangelho, o Conselho Permanente da CNBB, dirige esta mensagem a toda a sociedade brasileira, especialmente, às comunidades eclesiais, a fim de exortá-las a fazer uma opção clara em favor da criança e do adolescente. Digamos não à redução da maioridade penal e reivindiquemos das autoridades competentes o cumprimento do que estabelece o ECA para o adolescente em conflito com a lei."
Jesus aponta como modelos o pai que perdoou, o filho que se arrependeu, o publicano que pedia perdão, o samaritano que perdeu tempo para cuidar de um desconhecido vítima de assaltantes. Apontava como exemplo de falsa espiritualidade os dois homens de religião que nada fizeram pelo ferido; o fariseu que se gabava de ser bom dizimista, o filho bonzinho que ficou irado por ver que o pai perdoara seu irmão pecador. No contraste estava a doutrina. Ou praticamos a alteridade ou perderemos a autoridade!(Padre Zezinho, artigo: Alteridade e Autoridade)
Concluo esta reflexão a partir do tema "SOMOS CRISTÃOS E A REDUÇÃO?", e me pergunto se os cristãos que se assumiram a favor da redução, o que fizeram para ser diferente? Seguiram os passos do mestre e acreditaram no poder da Palavra? Arregaçaram as mangas e procuraram apoio nas ONGs para projetos de inclusão? Fomentaram as pastorais, os movimentos, para atividades de evangelização por meio do esporte e lazer? E se Jesus desistisse de nós? O seguimento de Jesus nos coloca numa dinâmica contrária as escolhas e visão do mundo atual, crer no Cristo e assumir sua lógica escrita nos Evangelhos nos exorta a reconhecermos as estruturas que escravizam e não oportunizam os adolescentes e jovens. Em Lucas 6, 46 Jesus nos questiona sobre nossas escolhas " Porque me chamais: Senhor, Senhor... e não fazeis o que vos digo?" Entre o ódio, o medo e o desespero, em Jesus optamos pelo amor, coragem e esperança, talvez muitos católicos que vivem cotidianamente a experiência da Eucaristia não entenderam que nossa missão é fazer-se eucaristia para aqueles que a sociedade não escolheu como prioridade.
Referências bibliográficas
ARENDT, H. A Condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Rio de Janeiro. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
DUSSEL, E. Método para uma filosofia da libertação. Loyola: São Paulo, 1986.
Fonte: http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/comportamental/alteridade-e-autoridade
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