terça-feira, 6 de outubro de 2015

A MAIS VALIA EM MARX

Outro conceito importantíssimo para se compreender a organização dos modos de produção capitalista e suas formas de apropriação do trabalho é aquilo que Marx denominou como Mais-valia. Esse termo, muito famoso, é utilizado para referir-se à diferença existente entre o valor da mercadoria produzida, a soma do valor de seus meios de produção e o valor do trabalho, que apresenta-se como a base de lucro no sistema capitalista.
Este, no entanto não é um conceito tão simples quanto possa parecer à primeira vista, isso porque o próprio Marx, aos poucos, foi percebendo que muitos destes valores não eram grandezas concretas e absolutas, mas sim passiveis de muita variabilidade indo de uma sociedade para a outra.
Por exemplo, foi possível constatar que os valores do trabalho não eram reduzidos ao valor de sobrevivência, mas que em cada sociedade ele agregava valores de costumes e culturais, dessa forma, na França, por exemplo, esse valor levava em conta que era algo impraticável esperar que os operários contentassem-se em viver sem seu vinho.

Sabe-se no entanto que, invariavelmente, os valores atribuídos ao trabalho e mesmo a todo processo de produção eram absurdamente inferiores ao valor cobrado pelo produto final, gerando dessa forma lucros exorbitantes para o capitalista, o dono dos meios de produção. E assim é até hoje, fazendo com que não seja difícil perceber, mais uma vez, a alienação do trabalho. Os honorários obtidos por um trabalhador de linha de montagem de automóveis pode sim suprir suas necessidades de sobrevivência, no entanto, dificilmente dará a esse operário acesso pleno ao produto final de seu trabalho.

O TRABALHO EM WEBER

A visão protestante, para além de uma valorização religiosa do trabalho, contribui para criar um “espírito” motivacional para o empreendedorismo. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens – os capitalistas – à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de juros e à acumulação de capital. Esse ethos – conjunto de valores culturais – exortava que a acumulação do capital deveria ser reinvestida em novos empreendimentos que gerassem mais empregos. Esse círculo virtuoso – trabalhar, acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento da harmonia social. Será esse ethos que fomentará a atividade capitalista.
Observa-se portanto que, da completa desvalorização, o trabalho assume, ao longo da sociedade religiosa, uma mudança de sentido até se tornar referência para uma vida virtuosa. Num primeiro momento, na Idade Média, o trabalho é interpretado como castigo – subjaz a essa representação do trabalho uma subjetividade da insignificância da condição humana. O trabalho não é fonte de afirmação pessoal, coletiva ou mesmo espiritual, não compraz e não é valorizado. É visto como necessidade, uma penitência a ser realizada que se coloca em contigüidade à necessidade de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita de trabalho penoso e árduo, infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que não trabalha interpreta o trabalho dessa forma e considera-se venturoso porque possibilita a outrem a purgação do pecado original de toda a humanidade. A subjetividade manifesta é análoga aos que vivem do trabalho e aos que não vivem. 
Uma nova configuração dos aspectos subjetivos do trabalho ainda pode ser considerada na sociedade religiosa. Trata-se daquela advinda do significado do trabalho a partir dos preceitos impregnados na Reforma. Daquele momento em diante, definitivamente o trabalho afirma-se como um valor desejável, necessário e sinal de reconhecimento. A afirmação da pessoa humana passa pelo trabalho. A vida virtuosa completa-se no trabalho e é condenável a vida ociosa. Todos devem trabalhar, inclusive aqueles que dele necessariamente não precisem. O trabalho passa a ser uma exigência social, e como tal, assume uma configuração de distinção junto aos outros. O trabalho, contrariamente ao que se afirmava antes, pode sim ser fonte de riqueza e quanto mais se amealha mais reconhecimento traz e mais agrada a Deus.