sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

CÂMARA DE VEREADORES - DÚVIDAS FREQUENTES!

CÂMARA DE VEREADORES - TAUBATÉ/SP

 

No município, o Poder Legislativo é exercido pela Câmara Municipal, que no caso da cidade de Taubaté, por força da Constituição Federal, Estadual e da Lei Orgânica do Município, é composta de 19 vereadores eleitos dentre os cidadãos maiores de 18 anos e no exercício dos direitos políticos.
O Plenário da Câmara Municipal, composto exclusivamente de vereadores, é o órgão máximo do Poder Legislativo Municipal, que conta também com as Comissões Permanentes. Estes colegiados, de caráter técnico-legislativo, analisam as proposituras em seus aspectos jurídicos e de mérito, antes da matéria ser encaminhada para votação em Plenário.
Cabe à Câmara, com sanção do prefeito, dispor sobre as matérias de competência do Município, especialmente assuntos de interesse local; matéria tributária, decretação e arrecadação dos tributos de sua competência; discussão e aprovação do Plano Diretor da Cidade, que estabelece as diretrizes do crescimento urbano; discussão e aprovação do orçamento anual e da Lei de Diretriz Orçamentária que planeja onde e como aplicar o orçamento do município; sobre a dívida pública municipal; fiscalização das atividades comerciais, industriais e de serviços na cidade; vigilância sanitária; criação de cargos públicos e fixação dos respectivos vencimentos; bens do domínio do Município; regime jurídico dos agentes públicos municipais; polícia administrativa; zona urbana, urbanizável ou de expansão urbana, entre outras matérias.

QUAIS AS FUNÇÕES DO VEREADOR?

O vereador, de maneira geral, é o representante do povo. No exercício desta função, o vereador é o fiscal dos atos do prefeito na administração dos recursos do município expressos no orçamento. O vereador também faz as leis que estão dentro de sua competência, e analisa e aprova as leis que são de competência da prefeitura, do Executivo. Em resumo, o vereador recebe o povo, atende as suas reivindicações e é o mediador entre o povo e o prefeito.

COMO É QUE UM VEREADOR FAZ AS LEIS?

Através de sua assessoria, o vereador elabora e redige os projetos, apresentando-os, em seguida, em Plenário. Este projeto é declarado objeto de deliberação pelo presidente e manda abrir o processo. Em seguida, o projeto vai para as diversas comissões da Câmara e passa por duas votações. Depois disso, o projeto aprovado vai para o prefeito que pode sancioná-lo ou vetá-lo, ou nem um nem outro.

O QUE É A MESA DIRETORA DA CÂMARA?

A Mesa Diretora da Câmara, como diz o próprio nome, é o órgão de direção do Legislativo. A Mesa Diretora é quem preside as reuniões e sessões do Legislativo e tem diversas atribuições específicas no Regimento Interno da Casa. Regimento Interno é a resolução que regula as funções do vereador, seus direitos e deveres, o processo legislativo, o modo de ser das reuniões e as penalidades ao vereador.

O QUE É TRIBUNA LIVRE?

A Tribuna Livre é a oportunidade que a Câmara oferece aos cidadãos e cidadãs de se manifestarem em Plenário. Qualquer cidadão pode utilizar-se da Tribuna da Câmara para fazer a defesa ou manifestação sobre assuntos que não ofendam a moral e os bons costumes e nem atentem contra os poderes constituídos. O uso da Tribuna Livre obedece a uma série de regras fixadas, inclusive um tempo e tema pré-determinados junto à Mesa Diretora da Câmara.

O QUE É UMA COMISSÃO PERMANENTE?

As Comissões Permanentes analisam os projetos de lei ou resolução, emitindo pareceres. Entre as Comissões Permanentes destacam-se:

Justiça e Redação
Ver. Rodrigo Luis Silva, presidente
Ver. João Marcos Pereira Vidal, secretário
Ver. José Adalcio Nunes Coelho, membro

Finanças e Orçamento
Ver. Jeferson Campos, presidente
Ver. Luiz Gonzaga Soares, secretário
Ver. Joffre Neto, membro

Obras, Serviços Públicos, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente
Ver. Noilton Silvestre Ramos, presidente
Ver. José Adalcio Nunes Coelho, secretário
Ver. José Antonio de Angelis, membro

Educação, Cultura e Turismo
Verª. Pollyana Fátima Gama Santos, presidente
Ver. Alexandre Villela Silva, secretário
Verª. Vera Lúcia Santos Saba, membro

Esporte e Lazer
Ver. Luiz Henrique Couto de Abreu, Presidente
Ver. Ver. Rodrigo Luis Silva, Secretário
Ver. Paulo de Tarso Cardoso

Saúde, Trabalho, Seguridade Social e Servidor Público
Ver. José Antonio de Angelis, presidente
Ver. Alexandre Villela Silva, secretário
Verª. Maria Gorete Santos de Toledo, membro

Direitos Humanos
Ver. Alexandre Villela Silva, presidente
Ver. João Marcos Pereira Vidal, secretário
Ver. José Adalcio Nunes Coelho, membro

Especial de Fiscalização Financeira e Orçamentária
Ver. Luiz Gonzaga Soares, presidente
Ver. Noilton Silvestre Ramos, secretário
Verª. Vera Lúcia Santos Saba, membro
Ver. Joffre Neto, membro
Ver. José Adalcio Nunes Coelho, membro

AS SESSÕES DA CÂMARA SÃO PÚBLICAS?

São públicas e o povo tem todo o direito de comparecer e assistir aos trabalhos dos vereadores em plenário. Afinal , o povo que elegeu os vereadores tem todo o direito de acompanhar o trabalho de seus representantes escolhidos para governar a cidade. Se o povo acompanhasse de perto a todas as sessões, seria um belo exemplo de participação popular. A Câmara Municipal de Taubaté tem a vantagem de possuir um sistema de transmissão de TV e Internet, que permite ao cidadão acompanhar em sua casa o trabalho dos vereadores ao vivo e em reprises das sessões.

O QUE É A LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO?

Lei Orgânica é uma espécie de Constituição Municipal, criada com regras de comportamento para a população da cidade. A Lei Orgânica não pode contrariar as constituições Federal e Estadual e nem as leis federais e municipais. Antigamente, havia uma só constituição para todos os municípios, mas, atualmente, cada município, de acordo com suas necessidade e peculiaridades, tem autonomia para criar a sua própria Lei Orgânica. O prefeito é quem se encarrega de fazer cumprir a Lei Orgânica, sempre observada e fiscalizada pela Câmara de Vereadores.

O VEREADOR TEM OBRIGAÇÃO DE ATENDER FORA DO HORÁRIO DA CÂMARA?

A rigor, o vereador não tem obrigação de atender fora do seu horário de trabalho em Plenário. Isso pode ocorrer em circunstâncias especiais. Porém, o vereador, como agente político, sozinho ou acompanhado de seus assessores, pode e deve fazer o atendimento aos seus eleitores nos bairros, vilas e centro da cidade. O vereador, também, não é obrigado a ficar o tempo todo em seu gabinete como pensam muitas pessoas. Nem os seus assessores. Constitucionalmente o trabalho de um vereador e de seus assessores não se limita apenas ao Plenário ou ao prédio da Câmara.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ernst Bloch - Antropologia da Esperança

Antropologia da Esperança

 
 
A antropologia da esperança exige necessariamente uma ontologia do mundo aberto ao futuro e à história: a esperança humana encontra-se fundada nas infinitas possibilidades abertas do processo cósmico. Sem estas possibilidades reais, a esperança seria um absurdo, porque, segundo Kierkegaard, a esperança é precisamente a "paixão pelo possível". Bloch valoriza muito mais o conceito de possibilidade do que o conceito de realidade: a realidade mais não é do que a realização da possibilidade. Por isso, Bloch elaborou uma ontologia do que ainda-não-é mas que é possível ou susceptível de vir a ser. Ao sentido de realidade do homem corresponde logicamente o sentido de possibilidade. O mundo em que vivemos e esperamos não é um edifício acabado e concluído, mas uma combinação de realidades e de possibilidades, isto é, um processo aberto. Não é um sistema de estruturas eternamente repetíveis e reproduzíveis, mas uma história aberta, onde acontecem e podem ser realizadas coisas novas. O mundo é, segundo a expressão feliz de Bloch, um laboratorium possibilis salutis: não é um céu da perfeição nem um inferno do aniquilamento, mas simplesmente uma terra imperfeita, cujas possibilidades estão abertas ao bem e ao mal. Isto significa que o futuro do mundo pode ser ou a morte do universo e o nada ou a pátria da identidade.
Para Bloch, a finalidade da filosofia é a transformação do mundo. Graças à possibilidade real e dialética, os sonhos utópicos, que são diurnos, acordados e contagiosos, não degeneram em ilusões ocas, mas ajudam a conservar o otimismo militante. Este otimismo está fundado sobre a utopia concreta, que o liberta do quietismo e lhe atribui o seu próprio lugar à frente do processo do mundo, onde se produz o novum. A produção da frente e do novum ao longo da história humana desemboca numa nova realidade que capta uma terceira categoria: ultimum. O ultimum deverá ser a pátria da identidade. Assim, a utopia concreta constitui "o ponto de interseção entre o sonho e a vida, sem o qual o sonho seria mera utopia abstrata e a vida pura trivialidade". A utopia concreta faz da esperança subjetiva uma esperança comunitária, uma docta spes, uma esperança esclarecida, que critica o mundo existente, com a sua capacidade de se erguer por cima do imediato e do fático e inventar novos possíveis a partir da "obscuridade do momento vivido". A utopia concreta visa eliminar a miséria humana e o direito natural visa suprimir a humilhação do homem. Segundo Marx, o imperativo categórico é "subverter todas as condições em que o homem é um ser humilhado, escravizado, abandonado e desvalorizado".
 


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Karl Marx - Consciência Social

 
 
A Consciência é um Produto Social
São os homens os produtores das suas representações, das suas ideias, etc.; mas os homens reais agentes, tais como são condicionados por um desenvolvimento determinado das suas forças produtivas e das relações que lhes correspondem. (...) A consciência não pode ser coisa diversa do ser consciente e o ser dos homens é o seu processo de vida real.
(...) Desde o início que pesa uma maldição sobre «o espírito», a de estar «manchado» por uma matéria que se apresenta aqui sob a forma de camadas de ar agitadas, de sons, de linguagem em suma. A linguagem é tão velha quanto a consciência - a linguagem é a consciência real, prática, existente também para outros homens, existente também igualmente para mim mesmo pela primeira vez, e, tal como a consciência, a linguagem só aparece com a necessidade, a necessidade de comunicação com os outros homens. (…) A consciência é portanto, desde início, um produto social, e assim sucederá enquanto existirem homens em geral.

Karl Marx, in 'A Ideologia Alemã'




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A DIALÉTICA MARXISTA

A dialética marxista


A dialética é uma idéia fundamental segundo a qual o mundo não dever ser considerado como um universo de coisas acabadas, estáveis e eternas. Muito pelo contrário! O mundo reúne coisas e idéias que passam por mudanças constantes, com um começo, meio e fim; ou nascimento, vida e morte. Para a dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas em movimento: nenhuma coisa está "acabada", encontrando-se sempre em vias de se transformar, desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de outro. A visão dialética da história nos ensina de modo contundente que as coisas se inter-relacionam, existem em conjunto, determinam umas às outras, ainda que uma delas pareça prevalecer. O que isto nos traz?  Que a diretoria pelega e corrupta de um sindicato tem mais a ver com a oposição do que se imagina. Que a direção autoritária da empresa tem mais a ver com os empregados submissos do que se imagina. Então, como romper o círculo? Marx sempre assinalou a importância da educação no sentido de elevar a consciência de determinados grupos e permitir uma mudança qualitativa nas relações dialéticas que determinam o caráter da sociedade. Se tudo está relacionado, ao investirmos na conscientização dos grupos sociais oprimidos sobre o caráter explorador da sociedade, terminamos por influenciar a equação dialética rumo a uma ruptura com a situação que vivemos hoje. A diretoria pelega e corrupta de um sindicato se mantem ali em função do desinteresse dos trabalhadores, um desinteresse que os grupos de oposição não conseguem alterar. A direção autoritária da empresa persiste porque o sindicato é comandado por parasitas. As coisas se relacionam de modo absoluto e a mudança passa pelo florescimento da consciência nos grupos explorados. Não há outro caminho. É preciso ir às bases. Isso dá trabalho, mas é a unica alternativa capaz de mudar a realidade. Pense a respeito.
 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A condição humana segundo Pascal

A condição humana segundo Pascal

 
Uma constante na história da filosofia é o elogio do poder de conhecer que tem o homem. Tal poder identificou-se no mais das vezes a uma das faculdades humanas, a Razão. Seria contudo falsear esta história omitir o aspecto auto-crítico da Razão, ou seja, a capacidade de a filosofia criticar racionalmente a Razão, apontando os limites do conhecimento humano. Tal tarefa foi explorada de modo particular por Blaise Pascal (1623-1662), e é através dela que podemos compreender o papel fundamental da Religião no pensamento deste filósofo.
Lê-se nos manuais que Pascal trata da condição miserável do homem, dilacerado entre o nada de onde saiu e o infinito que o envolve, incapaz de compreender seu princípio bem como seu fim. Vejamos o que isto significa: antes de tudo (e é aí que se situa a crítica ao poder da razão), que a única compreensão real ao alcance do homem pascaliano é a de ser superado por infinitos que ele não pode fixar, mas que sente serem irremediavelmente necessários para a compreensão do mundo e de si mesmo. Afinal, o homem é uma parte do todo, a qual tem infinitas relações com as outras, de modo que a compreensão da parte implica conhecer o todo em que se insere. Na dura visão de Pascal, o homem é profundamente infeliz pois só um bem infinito, e portanto inabarcável, poderia satisfazer seus anseios. De um lado, se a imaginação disfarça esta necessidade de infinitude, o homem perde-se inutilmente nos bens materiais, sofrendo contínuas decepções. De outro, se compreende esta necessidade (através da humilhação que sente ao ser superado), percebe sua incapacidade de sequer imaginar o infinito. “Por mais que ampliemos as nossas concepções e as projetemos além dos espaços imagináveis, concebemos tão somente átomos em comparação com a realidade das coisas. Esta é uma esfera infinita cujo centro se encontra em toda parte e cuja circunferência não se acha em nenhuma.” (As citações do texto são do fragmento 72 dos Pensamentos, Abril Cultural).
No extremo oposto, o menor dos objetos (uma lêndea, por exemplo) contém dentro de si infinitos mundos, e dentro deles infinitos seres que vão muito além do que o homem pode imaginar. Logo, os elementos que compõem o universo são tão inabarcáveis quanto o todo dele, ou seja, até o mais desprezível inseto é capaz de derrubar a pretensão humana de conhecer os infinitos, seja o infinitamente grande ou o infinitamente pequeno. Na verdade, a posição natural do homem é de flutuar no meio deles sem entendê-los, de modo que o que extrapola a mediocridade não está em proporção com sua capacidade: quando avança rumo ao todo, sua insignificância o arrasta de volta; quando tenta agarrar o nada, seu pouco ser torna-se gigantesco, fazendo da menor distância um infinito insuperável.
O homem está destinado ao meio, mas não pode perder de vista os dois extremos. Diante deles, tudo é ínfimo, desnecessário, passageiro. A morte é o que o espera pois, comparados à eternidade, oitenta anos ou oitocentos são o mesmo que nada. Tudo que tem uma duração, um limite, do nosso ponto de vista finito é símbolo da morte, e do ponto de vista infinito (a eternidade de Deus) como que já morreu.
Então qual é a saída? Cabe à Razão, cuja força pintou este quadro trágico da existência humana, perceber que deve submeter-se à Religião. Não se trata de renunciar à Razão, mas de perceber racionalmente que as razões da Religião são as únicas capazes de explicar nossa condição e dar-lhe alguma esperança. A miséria não tem sentido se não a virmos como efeito do pecado original. E estaríamos necessariamente enredados nela não fosse a salvação em Jesus Cristo. É fato, diz Pascal, que estes mistérios são incompreensíveis, mas nossa condição é mais incompreensível sem eles do que eles são em si mesmos. Por isso a Razão deve aceitá-los.
Não há espaço para apresentar todo o exame que Pascal faz da Religião Cristã, mas isto não deve levar o leitor a crer que haja um abandono da racionalidade, o que seria abandonar a filosofia. Ao contrário, é a força da Razão que se manifesta ao explorar seus próprios limites.
 
Luís César OlivaMestre e doutor pelo departamento de filosofia da USP, assina mensalmente a seção “Filosofia CULT”
 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Qual é a diferença entre comunidade e rede? Por Z. Bauman


Qual é a diferença entre comunidade e rede?


Um viciado do Facebook gabou-se para mim de que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi que eu vivi por 86 anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso. Então, provavelmente, quando ele diz "amigo", e eu digo "amigo", não queremos dizer a mesma coisa. São coisas diferentes.
Quando eu era jovem, um nunca tive o conceito de "redes". Eu tinha o conceito de laços humanos, de comunidades, esse tipo de coisa, mas não redes.Qual é a diferença entre comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce numa comunidade. Por outro lado, temos a rede. O que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes. Uma é conectar e a outra é desconectar.
E eu acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o tipo de amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. Que é tão fácil de desconectar. É fácil conectar, fazer amigos. Mas o maior atrativo é a facilidade de se desconectar. Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line, conexões de verdade, face a face, corpo a corpo, olho no olho.
Então, romper relações é sempre um evento muito traumático. Você tem que encontrar desculpas, você tem que explicar, você tem que mentir com frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro porque seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é um porco, etc. É difícil, mas na internet é tão fácil, você só pressiona delete e pronto.
Em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500... E isso mina os laços humanos.
Os laços humanos são uma mistura de benção e maldição.Benção, porque é realmente muito prazeroso, muito satisfatório, ter outro parceiro em quem confiar e fazer algo por ele ou ela. É um tipo de experiência indisponível para a amizade no Facebook; então, é uma benção. E eu acho que muitos jovens não tem nem mesmo consciência do que eles realmente perderam, porque eles nunca vivenciaram esse tipo de situação.
Por outro lado, há a maldição, pois quando você entra no laço, você espera ficar lá para sempre. Você jura, você faz um juramento: até que a morte nos separe, para sempre. O que isso significa? Significa que você empenha o seu futuro. Talvez amanhã, ou no mês que vem, haja novas oportunidades. Agora, você não consegue prevê-las. E você não será capaz de pegar essas oportunidades, porque você ficará preso aos seus antigos compromissos, às suas antigas obrigações.
Então, é uma situação muito ambivalente. E, consequentemente, um fenômeno curioso dessa pessoa solitária numa multidão de solitários. Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.

fonte: http://textosparareflexao.blogspot.com/2012/11/uma-visita-zygmunt-bauman.html

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Caí no mundo e não sei voltar por Eduardo Galeano


Caí no mundo e não sei voltar

O que acontece comigo é que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte só por que alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco…

Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas.

E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis!

Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.

Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.

O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os aparelhos de som uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades.

Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez. Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!

É mais! Se compravam para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.


E acontece que em nosso, nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que havia em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes.

Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar. Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica.

Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas elétricas? o afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?

Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.

Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de … anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava..

Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor…. É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com “guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa”, mudar para o “compre e jogue fora que já vem um novo modelo”.

Troca-se de carro a cada três anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado… E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas… por amor de Deus!

Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.

E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me educaram para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Por que, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.

Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (porque éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô.

Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular há poucos meses de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?

Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos…

Como guardávamos!! Tuuuudo!!! Guardávamos as tampinhas dos refrescos!! Como, para quê? Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante da porta para tirar o barro. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.

Tuuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para acendedores descartáveis.

E as Gillette até partidas ao meio se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.

E as pilhas! As pilhas dos primeiros rádios Spica passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais.

Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim. As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.

Os jornais!!! Serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisa para enrolar.

Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne!!! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia “esta é um 4 de copas”.

As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.

Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem matá-los tão-logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!

E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: Comam o sorvete e depois joguem o copinho fora, nós dizíamos que sim, mas, imagina que a tirávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa.

E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!!

Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objetos com pessoas.

Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer.

Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno.

Não vou dizer que aos velhos se declara a morte apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com brilhantina no cabelo e glamour.

Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à bruxa, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar este mundo da reposição e corro o risco de que a bruxa me ganhe a mão e seja eu o entregue…


http://www.patrialatina.com.br/colunas.php?idprog=d67d8ab4f4c10bf22aa353e27879133c&codcolunista=39

Prioridades dos donos do mundo por Frei Betto

Prioridades dos donos do mundo


Parem o mundo que eu quero descer! Os donos do planeta enlouqueceram ou não entendo bem o que propõem?
Os donos do mundo centram suas atenções no que qualificam de Fatores X – questões que os respeitáveis senhores e senhoras consideram prioritárias e que, se não forem encaradas com seriedade, podem desestabilizar a atual “ordem” mundial.
O relatório anual sobre os riscos globais, publicado duas semanas antes do encontro de Davos, teve colaboração da revista científica Nature na análise dos Fatores X:
Vamos a eles.
O primeiro, a possível descoberta de que há vida inteligente fora desse nosso planetinha desgraçadamente afetado pelas ambições do capital.
Com o ritmo da exploração do espaço nas últimas décadas, diz o documento preparatório de Davos, é possível considerar que a humanidade pode descobrir vida em outros planetas. A maior preocupação seria sobre os efeitos nos investimentos em ciência, e a própria imagem do ser humano.
Supondo que seja encontrado um novo lar em potencial para a humanidade ou a existência de vida em nosso sistema solar, a pesquisa científica teria que deslocar grandes investimentos para a robótica e missões espaciais. Além disso, as implicações filosóficas e psicológicas da descoberta de vida extraterrestre seriam profundas, desafiando crenças das religiões e da filosofia humana. Por meio de educação e campanhas de alerta, o público poderia se preparar melhor para as consequências desse processo, sugere o fórum.
No início de 2013, dados coletados pelo observatório espacial Kepler, monitorado pela Nasa, indicam que só a nossa galáxia, a Via Láctea (com pelo menos 100 bilhões de estrelas ou sóis), teria 17 bilhões de planetas rochosos, com tamanho entre 0,8 a 1,2 o da Terra. Pode ser que um ou mais esteja orbitando suas estrelas à distância adequada para o surgimento de vida.
Atrás dessa retórica “humanista” se esconde o projeto de loteamento do Cosmo. Haja fome de lucros! Eu, que sou crédulo, acredito em vida extraterrestre. Creio mesmo que nossos vizinhos já se aproximaram, mas ao captar nossas emissões televisivas concluíram que na Terra não há vida inteligente.
O segundo Fator X é o avanço cognitivo do cérebro humano pelo uso de estimulantes.
Segundo o documento de Davos, há o temor de que no futuro as pessoas abusem da tecnociência, que permite turbinar o desempenho no trabalho e nos estudos. A química fará de nós robôs ultraeficientes.
O esforço dos cientistas para tratar doenças como Alzheimer ou esquizofrenia leva a crer que, no futuro não muito distante, pesquisadores identificarão substâncias que permitam melhorar os estimulantes de hoje, como a Ritalina. Apesar de prescritos a pessoas com doenças neurológicas, esses remédios seriam usados no dia a dia.
O avanço poderia também vir de hardwares, diz o relatório. Estudos mostram que a estimulação elétrica pode favorecer a memória. Diante disso, seria ético aceitar o mundo dividido entre os que tiveram oportunidade de ter a parte cognitiva reforçada e os que não tiveram?, indaga o documento. Haveria, ainda, o risco de esse avanço dar errado.
O terceiro Fator X, o uso descontrolado de tecnologias para conter as mudanças climáticas, que acabariam afetando ainda mais o equilíbrio ecológico. Apesar de as ameaças de mudanças climáticas serem conhecidas, o relatório também indaga se já passamos de um ponto dramático de não retorno. Dados indicam que nosso planeta já perdeu ao menos 30% de sua capacidade de autorregeneração.
O quarto, os custos dos seres humanos viverem muito mais tempo, após a idade laboral. Os países não têm se preparado para os altos custos que a velhice, hoje qualificada de terceira idade, implica, e com a massa de pessoas que sofrerão de doenças como artrite e demências. A medicina do século XX avançou muito nas descobertas relativas às doenças genéticas, decifrando o genoma humano. São esperados ainda mais avanços no tratamento de doenças do coração e do câncer.
O documento preocupa-se com o impacto na sociedade de uma camada da população que conseguirá prever e, portanto, evitar as causas mais comuns de morte hoje, mas com deterioração da qualidade de vida. Velhos longevos, ociosos e dependentes. Mais pesquisas seriam necessárias para encontrar soluções para essas condições, hoje consideradas crônicas.
Por trás de tudo isso, um objetivo prioritário desses senhores e senhoras: onde investir nosso dinheiro, de modo a multiplicá-lo tanto quanto as estrelas do céu e as areias das praias e do mar...
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser, de “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros.



http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8022:freibetto210113&catid=17:frei-betto&Itemid=55

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sociologia Humanística por Z. Bauman

 Holocausto, globalização, sociedade de consumo, amor, comunidade, individualidade são algumas das questões de que trata, sempre salientando a dimensão ética e humanitária que deve nortear tudo o que diz respeito à condição humana. Preocupado com a sina dos oprimidos, Bauman é uma das vozes a permanentemente questionar a ação dos governos neoliberais que promovem e estimulam as chamadas forças do mercado, ao mesmo tempo em que abdicam da responsabilidade de promover a justiça social. "Hoje em dia", lamenta ele, "os maiores obstáculos para a justiça social não são as intenções... invasivas do Estado, mas sua crescente impotência, ajudada e apoiada todos os dias pelo credo que oficialmente adota: o de que 'não há alternativa'". É nesse quadro que se pode entender sua afirmação de que "esse nosso mundo" precisa do socialismo como nunca antes. Mas o socialismo de que Bauman fala, como insiste em esclarecer, não se opõe "a nenhum modelo de sociedade, sob a condição de que essa sociedade teste permanentemente sua habilidade de corrigir as injustiças e de aliviar os sofrimentos que ela própria causou". É nesse sentido que ele define o socialismo como "uma faca afiada prensada contra as flagrantes injustiças da sociedade".
Vivemos em tempos de desregulamentação, de descentralização, de individualização, em que se assiste ao fim da Política com P maiúsculo e ao surgimento da "política da vida", ou seja, que assume que eu, você e todo o mundo deve encontrar soluções biográficas para problemas históricos, respostas individuais para problemas sociais. Nós, indivíduos, homens e mulheres na sociedade, fomos portanto, de modo geral, abandonados aos nossos próprios recursos.
Socialismo para mim não é o nome de um tipo particular de sociedade. É, exatamente como o postulado de Marx de justiça social, uma dor aguda e constante de consciência que nos impulsiona a corrigir ou a remover variedades sucessivas de injustiça. Não acredito mais na possibilidade (e até no desejo) de uma "sociedade perfeita", mas acredito numa "boa sociedade" — definida como aquela que se recrimina sem cessar por não ser suficientemente boa e não estar fazendo o suficiente para se tornar melhor.
Assim, o único sentido duradouro, o único significado que tem chance de deixar traços, rastos no mundo, de acrescentar algo ao mundo exterior, deve ser fruto de seu próprio esforço e trabalho. Os jovens podem contar unicamente com eles próprios e só haverá em suas vidas o sentido e a relevância que forem capazes de lhes dar. Sei que essa é uma tarefa muito difícil... mas é a única coisa que posso lhes dizer.
 
fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20702004000100015&script=sci_arttext
 

O legado crítico de Pierre Bourdieu

"A cidade dos sábios"


Face ao silêncio dos políticos diante dos problemas sociais, Bourdieu passou a apelar para a mobilização dos intelectuais. “O que defendo”, costumava dizer, “é a possibilidade e a necessidade do intelectual crítico”. Para Bourdieu, não pode haver democracia efectiva sem um verdadeiro contra-poder crítico. O sociólogo dedicou os seus últimos anos de vida a combater o neoliberalismo sob todas as suas formas. Colocou os seus conhecimentos científicos ao serviço do empenhamento político. Numa de suas últimas obras, Contre-feux 2, Pour um mouvement social européen, Bourdieu afirma: “Fui levado pela lógica do meu trabalho a ultrapassar os limites que eu mesmo havia estabelecido em nome de uma ideia de objectividade que, percebi, era uma forma de censura”. Ultrapassar esses limites, para ele, significava tirar o saber para fora da “cidade dos sábios” e colocá-lo a serviço das lutas sociais contra o neoliberalismo.
Um dos principais alvos de crítica de Bourdieu, nos seus últimos anos de vida, foram os meios de comunicação, que estariam, segundo ele, cada vez mais submetidos a uma lógica comercial inimiga da palavra, da verdade e dos significados reais da vida. Era um crítico feroz do lixo cultural produzido pelos média contemporâneos. Na sua obra Questions aux vrais maîtres du monde, afirmou: “Esse poder simbólico que, na grande maioria das sociedades, era distinto do poder político ou económico, hoje está concentrado nas mãos das mesmas pessoas que detêm o controlo dos grandes grupos de comunicação, quer dizer, que controlam o conjunto dos instrumentos de produção e de difusão dos bens culturais."
Bourdieu também era um crítico da globalização (ou mundialização, como preferem os franceses) financeira. Recusava a escolha entre a mundialização concebida como “submissão às leis do comércio” e a defesa das culturas nacionais ou de qualquer forma de nacionalismo ou localismo cultural. Ao fazer essa recusa, defendia a construção de um movimento social europeu como primeira etapa da construção de um movimento social internacional, no espírito daquele que tem vindo a ser construído em torno do Fórum Social Mundial. Deixa um legado importante e uma convocação veemente aos intelectuais para que abandonem a “cidade do saber” e passem a enfrentar o som e a fúria do mundo.

fonte:http://www.espacoacademico.com.br/010/10bourdieu02.htm