"A cidade dos sábios"
Face ao silêncio
dos políticos diante dos problemas sociais, Bourdieu passou a apelar para a
mobilização dos intelectuais. “O que defendo”, costumava dizer, “é a
possibilidade e a necessidade do intelectual crítico”. Para Bourdieu, não pode
haver democracia efectiva sem um verdadeiro contra-poder crítico. O sociólogo
dedicou os seus últimos anos de vida a combater o neoliberalismo sob todas as
suas formas. Colocou os seus conhecimentos científicos ao serviço do
empenhamento político. Numa de suas últimas obras, Contre-feux 2, Pour um
mouvement social européen, Bourdieu afirma: “Fui levado pela lógica do meu
trabalho a ultrapassar os limites que eu mesmo havia estabelecido em nome de uma
ideia de objectividade que, percebi, era uma forma de censura”. Ultrapassar
esses limites, para ele, significava tirar o saber para fora da “cidade dos
sábios” e colocá-lo a serviço das lutas sociais contra o
neoliberalismo.
Um dos principais
alvos de crítica de Bourdieu, nos seus últimos anos de vida, foram os meios de
comunicação, que estariam, segundo ele, cada vez mais submetidos a uma lógica
comercial inimiga da palavra, da verdade e dos significados reais da vida. Era
um crítico feroz do lixo cultural produzido pelos média contemporâneos. Na sua
obra Questions aux vrais maîtres du monde, afirmou: “Esse poder simbólico que,
na grande maioria das sociedades, era distinto do poder político ou económico,
hoje está concentrado nas mãos das mesmas pessoas que detêm o controlo dos
grandes grupos de comunicação, quer dizer, que controlam o conjunto dos
instrumentos de produção e de difusão dos bens culturais."
Bourdieu também era
um crítico da globalização (ou mundialização, como preferem os franceses)
financeira. Recusava a escolha entre a mundialização concebida como “submissão
às leis do comércio” e a defesa das culturas nacionais ou de qualquer forma de
nacionalismo ou localismo cultural. Ao fazer essa recusa, defendia a construção
de um movimento social europeu como primeira etapa da construção de um movimento
social internacional, no espírito daquele que tem vindo a ser construído em
torno do Fórum Social Mundial. Deixa um legado importante e uma convocação
veemente aos intelectuais para que abandonem a “cidade do saber” e passem a
enfrentar o som e a fúria do mundo.
fonte:http://www.espacoacademico.com.br/010/10bourdieu02.htm
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