Antropologia da Esperança
A antropologia da esperança exige necessariamente uma
ontologia do mundo aberto ao futuro e à história: a esperança
humana encontra-se fundada nas infinitas possibilidades abertas do processo
cósmico. Sem estas possibilidades reais, a esperança seria um absurdo, porque,
segundo Kierkegaard, a esperança é precisamente a "paixão pelo possível". Bloch
valoriza muito mais o conceito de possibilidade do que o
conceito de realidade: a realidade mais não é do que a
realização da possibilidade. Por isso, Bloch elaborou uma ontologia do que
ainda-não-é mas que é possível ou susceptível de vir a ser. Ao
sentido de realidade do homem corresponde logicamente o sentido de
possibilidade. O mundo em que vivemos e esperamos não é um edifício acabado e
concluído, mas uma combinação de realidades e de possibilidades, isto é, um
processo aberto. Não é um sistema de estruturas eternamente repetíveis e
reproduzíveis, mas uma história aberta, onde acontecem e podem ser realizadas
coisas novas. O mundo é, segundo a expressão feliz de Bloch, um
laboratorium possibilis salutis: não é um céu da perfeição nem um
inferno do aniquilamento, mas simplesmente uma terra imperfeita, cujas
possibilidades estão abertas ao bem e ao mal. Isto significa que o futuro do
mundo pode ser ou a morte do universo e o nada ou a pátria da
identidade.
Para Bloch, a finalidade da filosofia é a transformação do
mundo. Graças à possibilidade real e dialética, os sonhos utópicos,
que são diurnos, acordados e contagiosos, não degeneram em ilusões ocas, mas
ajudam a conservar o otimismo militante. Este otimismo está
fundado sobre a utopia concreta, que o liberta do quietismo e lhe atribui o seu
próprio lugar à frente do processo do mundo, onde se produz o
novum. A produção da frente e do novum ao
longo da história humana desemboca numa nova realidade que capta uma terceira
categoria: ultimum. O ultimum deverá ser a
pátria da identidade. Assim, a utopia concreta
constitui "o ponto de interseção entre o sonho e a vida, sem o qual o sonho
seria mera utopia abstrata e a vida pura trivialidade". A utopia concreta faz
da esperança subjetiva uma esperança comunitária, uma docta
spes, uma esperança esclarecida, que critica o mundo existente,
com a sua capacidade de se erguer por cima do imediato e do fático e inventar
novos possíveis a partir da "obscuridade do momento vivido". A utopia concreta
visa eliminar a miséria humana e o direito natural visa
suprimir a humilhação do homem. Segundo Marx, o imperativo categórico é
"subverter todas as condições em que o homem é um ser humilhado, escravizado,
abandonado e desvalorizado".
FONTE: Fragmento http://cyberdemocracia.blogspot.com.br/2008/07/ernst-bloch-ontologia-da-possibilidade.html
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